DÓI, DÓI MUITO!!!

  Há pouco mais de um ano, foi notícia em todo o mundo o maior desastre natural da história canadiana, um incêndio que destruiu mais de mil quilómetros quadrados de floresta e milhares de casas, deixando cerca de 90 000 pessoas, das quais pelo menos duas de nacionalidade portuguesa, sem as suas residências. As imagens, que […]

  • 17:15 | Sexta-feira, 14 de Julho de 2017
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Há pouco mais de um ano, foi notícia em todo o mundo o maior desastre natural da história canadiana, um incêndio que destruiu mais de mil quilómetros quadrados de floresta e milhares de casas, deixando cerca de 90 000 pessoas, das quais pelo menos duas de nacionalidade portuguesa, sem as suas residências.

As imagens, que correram o mundo, mostraram uma cidade devastada, rodeada por chamas, com carros incendiados e casas reduzidas a escombros. O incêndio em Fort McMurray, na província de Alberta, levou à destruição de milhares de casas, obrigando à evacuação de várias localidades.


Em Fort McMurray como em Pedrógão terá ocorrido um fenómeno designado “downburst”, ou seja, vento de grande intensidade que se move verticalmente em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções.

O senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, depois de ter estado presente, no “Teatro de Operações”, a apoiar as pessoas, exige que “se apure tudo sem limites nem medos” (Expresso, 24 de junho de 2017).

Orgulho-me de ter um Presidente que percebe, como ninguém, os tempos para abraçar, apoiar, chorar e investigar, avaliar e condenar. Percebe bem que há um tempo para dar um abraço e outro para exigir uma investigação, independente e célere, que apure todas as responsabilidades e não permita que a putativa culpa morra, como em tantos outros casos, solteira…

Lamentavelmente, outros, quais “Super-heróis” justiceiros, ainda se choravam as mortes – o número de vítimas foi aumentado a cada direto (alguns repugnantes) das televisões – já exigiam que se fizessem rolar cabeças, numa deriva populista e “politiqueira” que a todos envergonha. A imagem que me veio à cabeça, ao ouvir os arautos da verdade, foi a das famílias que discutem ao lado do caixão do defunto, quem fica com a vinha ou com a casa, num total e constrangedor desrespeito pelo seu ente, supostamente, querido.

Dói, Dói muito.

Recupero a pergunta do ex-monarca espanhol, Juan Carlos, ao ex-ditador venezuelano Hugo Chávez: “Por qué no te callas?”. Porque não se calaram e, no mínimo, respeitavam o luto de dezenas de famílias?

Como nos dão nota Andrea Cunha Freitas e Natália Faria, no jornal Público (23 de junho), “Continua a ser demasiado aquilo que não se sabe sobre o que correu mal no incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande e alastrou aos municípios vizinhos, provocando 64 mortos e 254 feridos.”

Ainda não se apurou porque é que, tendo havido um aviso prévio para o risco de incêndio e tendo o alerta sido dado às 14H43, mais de 5 horas depois só estavam 185 bombeiros no local e 2 meios aéreos; porque não foi cortada ao trânsito a Estrada Nacional 236-1, onde morreram 47 pessoas; se terá havido interrupção do funcionamento da rede SIRESP; que impacto tiveram as diversas falhas no planeamento, comando e execução das operações…

Eu, como (quase) todos os portugueses, exijo que se apure toda a verdade e se retirem as ilações necessárias para que se evitem novas tragédias. Contrariamente a uma boa parte das pitonisas, porque vivo em contexto rural, já vivi in loco o inferno dos incêndios e os cenários dantescos que originam. Estamos cansados dos negócios dos helicópteros Kamov e dos aviões Canadair; da panaceia dos eucaliptos e do abandono do interior; as corporações; a ANPC; o SIRESP; Proteção Civil…

Para os senhores que, comodamente instalados nas suas poltronas, em frente à Smart TV, com a temperatura ambiente a 20º, decidiram opinar, deixo o testemunho do senhor Amadeu ao jornal i (20 de junho de 2017):

“Em Coimbra está a minha filha à espera. Coitadinha, ainda não caiu em si. Para digerir tem a morte do marido, encontrado carbonizado com o afilhado de quatro anos ao colo. Parecia Santo António com o menino, explica Amadeu, abanando as mãos em frente à cara como a querer espantar uma imagem que dificilmente vai esquecer.”

DÓI, DÓI MUITO!!!

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Publicado em Opinião