Da escola dos ‘Cinco Réis de Gente’ à qualificação dos portugueses

E se o local é marcante e o enquadramento de uma forte carga simbólica, porém, nós permitimo-nos, nesta crónica, atribuir ao tempo, este mês de setembro, a maior relevância e o maior dos significados.

  • 8:08 | Terça-feira, 06 de Setembro de 2016
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A Câmara Municipal de Sernancelhe e a Bertrand Editora vão levar a cabo, no próximo dia 17 de setembro, a apresentação da nova edição da obra literária “Cinco Réis de Gente”, num evento a ocorrer no concelho de Sernancelhe, mais concretamente no Carregal, aldeia natal do autor, Aquilino Ribeiro.

E se o local é marcante e o enquadramento de uma forte carga simbólica, porém, nós permitimo-nos, nesta crónica, atribuir ao tempo, este mês de setembro, a maior relevância e o maior dos significados.

Dizemos até que não haveria melhor altura, melhor época, melhor tempo do que setembro para voltar a falar sobre “Cinco Réis de Gente”, uma obra de Aquilino Ribeiro agora reeditada pela Bertrand, com prefácio de Luísa Costa Gomes e introdução de Jorge Coelho.


É que é agora, em setembro, quando o verão se põe e o outono desperta, que os alunos começam uns e recomeçam tantos outros as suas atividades escolares. É o designado regresso às aulas. O regresso à escola, onde os jovens se tornarão mais cidadãos e melhores cidadãos.

E radica aqui, na temática da educação, da escola, este meu nexo entre a obra e esta época do ano.

Bem poderia ser pelos ouriços já gordos, grávidos de longais e de martaínhas, ou não estivéssemos numa região que se reclama e aclama de capital da castanha. Mas não, proponho que este nexo assente e se sustente no facto de o livro agora em reedição nos falar, através de episódios autobiográficos, de uma escola que era só para alguns, para muito poucos. Era a opção de um regime monárquico em agonia que teimava em manter o povo ignorante, opção diga-se, que atravessou, pelas mãos de Salazar, grande parte do século XX.

Esta é, aliás, em nossa opinião, uma das vertentes de leitura deste livro e, com ela, de homenagem a Aquilino, ele que tanto se empenhou nos ideais republicanos, em que a generalização da educação era, precisamente, um dos principais pilares programáticos, ou não afetasse o analfabetismo, à época, mais de 75% da população.

E hoje, tal qual naquele tempo, com problemas diferentes, é verdade, impõe-se igualmente olhar para a educação, olhar para a qualificação dos portugueses, pois não nos podemos resignar a índices de analfabetismo ainda elevados e níveis de conclusão do ensino secundário muito aquém dos nossos parceiros europeus. Não nos podemos, em suma, resignar a uma escola reprodutora das desigualdades sociais.

Daí que tire o chapéu ao lançamento, pelo Governo, do programa “Qualifica”, que vem conferir, novamente, centralidade política à qualificação dos portugueses, mas igualmente tire o chapéu à Bertrand pela reedição agora trazida à estampa e pela apresentação desta obra bem longe do Chiado, precisamente em Carregal, com o apoio da Câmara Municipal de Sernancelhe, que se releva, bem assim como o contributo do aquiliniano Paulo Neto, que embora esconso se sente e pressente em cada pormenor.

“Cinco Réis de Gente”, releiamo-lo.

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Publicado em Opinião