COHOUSING – UMA ALTERNATIVA RESIDENCIAL PARA OS SENIORES

  Temos, em Portugal, uma população sénior cada vez mais numerosa e também com um melhor estado de saúde, embora ainda tenhamos muito caminho para fazer com o objetivo de dar mais qualidade de vida aos anos que temos vindo a conquistar. Os nossos pais e avós são mais independentes e muito mais exigentes, no […]

  • 10:25 | Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2019
  • Ler em 3 minutos

 

Temos, em Portugal, uma população sénior cada vez mais numerosa e também com um melhor estado de saúde, embora ainda tenhamos muito caminho para fazer com o objetivo de dar mais qualidade de vida aos anos que temos vindo a conquistar.

Os nossos pais e avós são mais independentes e muito mais exigentes, no que diz respeito à planificação do seu projeto de vida presente e futuro. Uma das questões que se coloca a cada um dos nossos seniores, à medida que festejam os seus aniversários, é a ponderação de como e onde pretendem envelhecer. Não restam grandes dúvidas de que, em regra, a vontade das pessoas é a de poderem continuar a viver nas suas casas ou num ambiente que considerem como seu.


É neste contexto que surge a “habitação colaborativa” ou Cohousing, uma alternativa que possibilita aos seniores, que assim o desejem, viverem em habitações de uso individual e partilharem zonas comunitárias, desenhadas como extensão da casa. Estas comunidades são criadas tendo por base processos participativos nos quais não existem hierarquias e que são geridos pelos próprios residentes.

Este modelo é facilitador de um processo de envelhecimento diferente e que, segundo múltiplos estudos internacionais, proporciona numerosos benefícios às pessoas.

Em Portugal, além de não existir enquadramento legal, as evidências científicas são parcas ou mesmo inexistentes, bem como as experiências em funcionamento. Talvez estejamos num virar de página e quem sabe se a conferência internacional “Cohousing em Portugal – Viver Sustentável”, realizada, na passada semana, no Porto, organizada pela associação Hac.Ora Portugal Sénior Cohousing, não será a pedra de toque que nos falta.

Este modelo residencial poderá significar um envelhecimento mais feliz porque, ao viver num ambiente comunitário, será facilitada aos residentes a participação e o controlo das suas vidas até ao final dos seus dias.

Neste modelo os seniores são cocriadores de todo o processo, desde o local onde se implantará o equipamento, até ao desenho do equipamento que se pretende consensualizado, tendo em linha de conta o critério e as preferências de todas e cada uma das pessoas. São os verdadeiros protagonistas da sua história pessoal, da vida social e comunitária e não consentem que sejam terceiros quem decide como darão continuidade aos seus projetos de vida.

Neste modelo é assegurado o equilíbrio entre a privacidade e o ambiente coletivo. Cada utilizador desfruta da sua habitação, dos seus momentos de intimidade e, quando querem, podem aceder aos espaços comuns, ao ambiente coletivo onde podem encontrar-se, conversar, comer, jogar, conviver… Um bom exemplo do modelo de apoio integral e centrado na pessoa.

As habitações colaborativas nasceram, na década de 70, na Alemanha e na Holanda, e poderão ter como grande desafio a integração de pessoas dependentes e que precisem de cuidados de longa duração, sem que seja desvirtuada a sua essência, uma vez que estas surgiram como alternativa para pessoas que tenham preservada a sua capacidade funcional e cognitiva.

Uma das oradoras da conferência realizada no Porto, a sueca de 75 anos Kerstin Karnekull, que escolheu viver no primeiro projeto de cohousing do seu país, considera este modelo como uma “escola de democracia” em que há turnos para preparar refeições, fazer as limpezas e todas as restantes tarefas. Todos colaboram!

Cada vez que tenho conhecimento de que será criado mais um lar de idosos – Equipamento Residencial para Idosos (ERPI) – fico preocupado, especialmente porque uma boa parte dos empreendedores (com toda a boa vontade que lhes reconheço), não raras vezes, mantêm um modelo de equipamento e consequentemente de prestação de cuidados anacrónico, não muito distante das designadas instituições totais, assim definidas por Erving Goffman, que controlam ou pretendem controlar a vida dos indivíduos a ela submetidos, substituindo todas as possibilidades de interação social por “alternativas” internas.

O cohousing pode ser encarado como uma belíssima alternativa à institucionalização em lares de idosos ou à solidão daqueles que vivam sem retaguarda familiar consistente e permanente. 

 

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Opinião