Viseu e o "barulho das luzes" de um Natal tristonho

    Longe vai o tempo de um Natal-Consoada e dia de simbólica e alegre festa da Família. Os tempos de austeridade vividos de 2011 a 2015, com o roubo do subsídio de Natal a milhões de portugueses, vieram trazer mais algidez e menos festividade à quadra, outrora tão gratificante e calorosa. Os filhos e os […]

  • 14:12 | Domingo, 20 de Novembro de 2016
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Longe vai o tempo de um Natal-Consoada e dia de simbólica e alegre festa da Família.
Os tempos de austeridade vividos de 2011 a 2015, com o roubo do subsídio de Natal a milhões de portugueses, vieram trazer mais algidez e menos festividade à quadra, outrora tão gratificante e calorosa.
Os filhos e os netos emigrados, o forte desemprego local, a fraca reforma de milhares de idosos, a solidão de tantos, a doença de muitos, o desamparo de alguns, os pesados impostos, o roubo dos direitos salariais adquiridos, a perda do poder de compra… pouco deixou para além dos euros para a magra posta de bacalhau que já nem é do corrente, antes do miúdo, com os ovos, as couves e as batatas que ainda (e se) vierem da aldeia.
É uma ceia ainda mais triste que as outras ceias… Porque já foi de alegria e júbilo.
 
O concelho de Viseu tem 99.280 habitantes; a freguesia de Viseu 27.000.
Lisboa tem 530.850 habitantes.
Amadora tem 175.700 habitantes.
Porto tem 230.300 habitantes.
Viseu prevê gastar este Natal 88.000€ com despesas de iluminação da cidade.
Lisboa 700.000€.
Amadora 115.000€.
Porto 137.000€…
Uma fria análise destes meros dados e sabendo nós que a iluminação de Natal em Viseu se circunscreve ao núcleo urbano, ou seja, não contempla as restantes 24 freguesias do concelho, dá-nos proporcionalmente ao gasto por número de habitantes, os maiores gastos de Portugal continental.
Nada que nos admire vindo deste executivo perdulário. Quando essa quantia era esturricada em efémeros 5 minutos de foguetório na noite da Passagem de Ano, subsidiadas, é certo, por alguns bancos, cujas dificuldades económicas são pagas pelos contribuintes… Mas isso é outra história de plafonds e de bizarros protocolos.
Feitas as contas, até nem será muito para vermos o Rossio a brilhar, mas quando a austeridade nos roubou os parcos meios, estas exibições bacocas de um feerismo luminoso serão portadoras de bem-estar real, ou de ofensa aos milhares de viseenses que sobrevivem com salários e/ou reformas de miséria?
É este o investimento em política social de Almeida Henriques? O barulho das luzes e o deslumbramento efémero, que pode agradar ao olhar, decerto, mas não aquece o estômago nem acrescenta um grama à depauperada carteira de quase todos nós?
É que 88.000€ criteriosamente gastos com as famílias mais carenciadas do concelho, sempre daria 88€ a mil agregados familiares… Talvez uma Consoada com alguma fartura para quem tão pouco tem.

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