Vândalos ou políticos 4×4 entusiasmados? Mail' uma pitada de Camilo…

    Recorrentemente sucedem casos destes com entusiasmados comensais/hóspedes de uma unidade hoteleira viseense. Esta noite de sábado para domingo, logo no passeio matinal, proporcionou-nos pela alvorada, este “postal ilustrado”. Poderíamos conjecturar probabilidades diversas sobre o autor da “façanha”, embora nunca fossemos capazes de acreditar que fosse um “congressista” entusiasmado. Talvez apenas um “turista” das […]

  • 9:47 | Domingo, 04 de Dezembro de 2016
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Recorrentemente sucedem casos destes com entusiasmados comensais/hóspedes de uma unidade hoteleira viseense.
Esta noite de sábado para domingo, logo no passeio matinal, proporcionou-nos pela alvorada, este “postal ilustrado”.
Poderíamos conjecturar probabilidades diversas sobre o autor da “façanha”, embora nunca fossemos capazes de acreditar que fosse um “congressista” entusiasmado.
Talvez apenas um “turista” das festas do tinto & branco.
Ou apressado vinhateiro de tractor…
Numa surreal hipótese algum canídeo daqueles que a junta de freguesia quer pedagógica e louvavelmente educar, numa “revanche” frenética de matilha.
Mas não, um cão não é um humano abrutalhado!
Certamente um vândalo, daqueles que do alto do seu suv ou 4X4 último modelo, faz da “coisa pública” picada sua e, exuberante ou exuberado da pipa, deixa a sua impressão digital: dois profundos sulcos que, provavelmente à bordoada lhe ficariam bem no nédio lombo.
E já agora”, como pouco cortesmente sói dizer-se, um pouco a despropósito, recordando o grande Camilo, ontem lembrado pela senhora Câmara, em báquica festança, um naco de “A Corja”, em singelo contributo festivaleiro, um pouco a jusante de “Amor de Perdição”:
O abade perdera a vontade de comer. Gulodices predilectas vaporavam debalde diante dele as suas especiarias provocadoras. O chispe de porco e a orelha do mesmo, em concomitância divina com a nabiça e o feijão branco, o nabo recheado e a truta de escabeche achavam-no impassível como anacoreta santificado por jejuns inquebrantáveis. A Troncha ralava-se vendo aquele estômago e coração cheio de sarro e fastio. Ele repetia o bife de cebolada e o seu amor cheio de histerismos, alambazados. Às vezes, porém, quando a recebia com grosseiros gestos de enfado, a Troncha dizia ao padre João da Eira, o coadjutor: — Não tardo a pôr-me nas flautas. Ele anda levadinho da breca. Acho que lhe lembra a outra mondonga e eu é que pago as favas. Barriga cheia, pé dormente. Adeus, meu amigo. Quem lhe comeu a carne que lhe roa os ossos. Está farto, é o que é. Bem te entendo, mas não tenho copas… Eu depressa me sisco.
E o coadjutor, um machucho, entre os trinta e cinco e os quarenta, muito atarracado, com muita ronha e um bucho insondável:
— Senhora Eufémia, o abade é seu amigo, é muito seu amigo. O que o aflige não é Felícia, é a queda dos Cabrais. O homem chora por eles lágrimas como punhos, e vossemecê verá que ele dá um estouro, se os cartistas não vencem as eleições. Se vossemecê o abandona, dá cabo dele. Ajude-me a levar esta cruz ao Calvário. Eu também lhe sofro as descomposturas, os arremessos e vou suportando tudo até que os Cabrais tragam a esta casa alegria e sossego.”
A Corja”, Camilo Castelo Branco.

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