Uma entrevista de Aquilino Ribeiro à “Ilustração Portugueza”

    Aquilino Ribeiro foi 2º bibliotecário da Biblioteca Nacional, a convite de Raul Proença, de 1919 a 1926, ano em que saiu forçado pela sua participação na Revolução Nacional de 28 de Maio, na qual esteve profundamente envolvido, partindo, em consequência, para o seu segundo exílio em Paris, este de menor dura que o […]

  • 16:56 | Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2017
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Aquilino Ribeiro foi 2º bibliotecário da Biblioteca Nacional, a convite de Raul Proença, de 1919 a 1926, ano em que saiu forçado pela sua participação na Revolução Nacional de 28 de Maio, na qual esteve profundamente envolvido, partindo, em consequência, para o seu segundo exílio em Paris, este de menor dura que o de 1908-1914, pois em 1927 já regressava a Portugal a tempo de acompanhar os derradeiros minutos de sua primeira esposa, Grethe Luísa Martha Julia Tiedemann, com quem casara no dia 28 de Fevereiro de 1913, em Parchim, que será neste ano de 1927 vitimada pela peste pneumónica ou gripe espanhola.
Chegou-me ontem às mãos, por cortesia do meu “alfarrabista” de eleição, mais um número da “Ilustração Portugueza”, sem data, provavelmente de 1920/21, que à época saía como separata do prestigiado “O Século”, dirigido por Silva Graça.
Nela trás uma interessante entrevista de Aquilino a João Ameal, director da publicação, com três interessantes fotografias que, aliás, há vários anos tenho por generosidade de um anónimo de Lisboa, que mas enviou sem remetente para ao menos agradecer. Há gente assim…
A capa da separata é muito interessante e muito anos 20, com desenho de António Soares.
A entrevista, por sua vez, é mais uma deambulação retórica de João Ameal que uma entrevista tal como hoje a compaginamos.
Ainda assim, Aquilino fala nas obras em que trabalha, no prefácio dos “Amusements Périodiques”, do Cavaleiro de Oliveira, da “Estrada de Santiago”, da “Sonata da Montanha”, que nunca viu prelo, “ampliação do conto O derradeiro fauno, das  Filhas de Babilónia. Depois a segunda parte da Via Sinuosa”, “Lápides Partidas” e “a terceira parte, “Sob o pendão bárbaro”, onde surge o ciclone áspero da guerra.” Esta última também não foi editada.
Aproveita ainda o ensejo para falar da “mêlée das Belas Artes”, vigorosa polémica então estalada acerca da proposta de novos 180 sócios, artistas que queriam entrar e deparavam com a oposição dos “velhos”.
Ainda tem tempo para referir que na sua óptica “há poetas de mais”, acrescentando “Isto talvez seja arrojado, talvez seja excessivo – mas eu tenho um certo parti-pris contra a Poesia. Acho-a um género inferior à Prosa. As nações nascem a cantar, morrem a cantar – nascem e morrem a fazer versos. Na sua plenitude máscula, as nações vivem mais pelos seus prosadores, pelos estilistas enérgicos da vida, pelos que lhe sabem dar mais intensamente a vida, em troféu e em cicatrizes…
Todavia, enumera Lopes Vieira, Augusto Gil, Correia d’Oliveira, Eugénio de Castro que considera “grandes poetas”. Sem uma palavra para os artistas de Orpheu, do Modernismo e do Futurismo. O Movimento da Presença chegaria em 1927.
A certa altura, João Ameal pergunta “E o seu regionalismo extremo continua?”, responde Aquilino “Mais mitigado agora. As Terras do Demo foram dum regionalismo extenuante. Agora é mais uma vibração, de psicologia enferma, de patologia da época, uma época onde a vertigem materialista predomina… “, conclui não sem muita e indisfarçável ironia.
Aquilino sempre igual a si próprio e ainda hoje um Homem cuja vida e obra são e serão um monumento de coesão e coerência.
Por isso, a sua imortalidade.

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