Os répteis

    A propósito dos sacos “entrapilhados” de cobras existentes nas mais diversas instituições, e nomeadamente com mais visibilidade actual no seio dos partidos políticos, acresce-se serem incubadoras de répteis, em latência, hibernados, nédios e à espera do adequado momento para irromperem do seu mais ou menos longo torpor e darem a bífida e letal […]

  • 23:44 | Quinta-feira, 05 de Novembro de 2015
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A propósito dos sacos “entrapilhados” de cobras existentes nas mais diversas instituições, e nomeadamente com mais visibilidade actual no seio dos partidos políticos, acresce-se serem incubadoras de répteis, em latência, hibernados, nédios e à espera do adequado momento para irromperem do seu mais ou menos longo torpor e darem a bífida e letal picada.
Há-os de todas as espécies, desde a anaconda à cascavel. Todos têm em comum a força mandibular da voracidade, a rapidez com que despertam, a enorme capacidade de destilar veneno e a locomoção rastejante.
Lembro-me de répteis — nem sei bem porquê — ao pensar em quantos têm emergido ultimamente no seio de alguns clubes partidários. A nível nacional e a nível distrital.
Mas também em muitas organizações, públicas e privadas, essa fauna existe e medra.
São, em geral, afilhados de um qualquer amiguismo de rosto mais ou menos velado, ou meros comissários sem mérito nem valimento, das claques políticas, mais ou menos encapotados.
Têm em comum a arrogância da imunidade, a mentira da impunidade, as espaldas quentes das tutelas.
Num país de compadrios institucionais, são como tojo no monte, urze na serra ou erva daninha em canteiro.
E mais das vezes, para agravar, este bando de gentinha, não tem uma única qualidade que se veja ou virtude que console.
Larvas da incompetência a desovar, fetidamente, por todo o lado e a tentar abocanhar todo o protagonismo, rastejando perante os mais fortes e vociferando no dorso dos mais fracos.
Deslumbrados e iludidos, vão tecendo as teias em que se enrodilharão, mais tarde ou mais cedo, até e porque, algumas dessas urdiduras foram entretecidas em passados recentes, onde deixaram bem visível a pegada viscosa e vil da sua verdadeira natureza claudicante.
Não julgo ser tal “bordel” apanágio e típico de Portugal, mas mais frequentes na América Latina, África e alguns países europeus sulistas. Assim como um traço menos nobre da “mediterraneidade” ou um ADN perdido no tempo, falho de vergonha e de honra. Um “mix” de Fenícios em Cartago…
Esta fauna ou chega a ministro da pátria ou a administrador do tesouro. A mais das vezes, quedam-se alapados em direcções, sem rumo nem sentido, antes sujeita aos ziguezagues da ébria vertigem e muito veloz no seu deslumbramento.
Entretanto, por mais efémera ou perene que seja sua passagem, causam danos incomensuráveis e desmedidos pelos trilhos da canalhice.
Como os “ratos” da “Peste”, de Camus.
 

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Publicado em Editorial