O clubismo viseense

    Esta cidade está a ficar cada vez mais interessante e prenhe de suspense, ao jeito daquelas telenovelas brasileiras dos anos 70, tipo “Gabriela, Cravo e Canela”, que à hora da emissão parava o país inteiro.   E como nesta, não faltará um Nacib, um Mundinho Falcão, um Tonico Bastos, uma Gabriela e uma […]

  • 11:15 | Terça-feira, 05 de Fevereiro de 2019
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Esta cidade está a ficar cada vez mais interessante e prenhe de suspense, ao jeito daquelas telenovelas brasileiras dos anos 70, tipo “Gabriela, Cravo e Canela”, que à hora da emissão parava o país inteiro.

 
E como nesta, não faltará um Nacib, um Mundinho Falcão, um Tonico Bastos, uma Gabriela e uma rica plêiade de coronéis, entre os quais pontifica, semi-retirado, o vetusto Ramiro Bastos.
Na querida urbe, travestem-se, confundem-se, despertam desejo, ódios e paixões, e entre amigos do bom viver, corações solidários e almas leves, envolvem-se em movimentos sócio-políticos, controlam “messe e parada”, acabam conversas proferindo um gracioso “Já lhe dei um cartão?”, moralistas de exterior, de fera avidez interior, atraídos pela fama de terra próspera, pacata e rica, etc., etc., etc…
O problema in situ, nesta pluralidade de papéis assumidos, é saber quem é hoje Gabriela e amanhã Tonico Bastos, quiçá Nacib.
Há dias, um clube local, saiu da sua soturna placidez e encarnou uma folclórica cena digna da pacata Ilhéus. Estremeceu abulias, lembrou sócios esquecidos de que o eram a pagar suas relapsas quotas, os calotezinhos de balcão e, todos juntos, de cartola e blazer azul assertoado com botões a luzir de amónio, numa irmandade desavinda, em noite álgida de inverno, lá foram estatutariamente em defesa dos Direitos Humanos de um proposto-rejeitado-admitido.
Parecia a Assembleia de Atenas, diz quem assistiu, e sem faltar Péricles nem Demóstones, aduzidas as razões, votado na confidência, o simpósium coroou de louros a testa recém-aperaltada da nova “coqueluche” local.
Viseu tem tradições pugnitivas, teve Viriato e Alves Martins, é burgo acolhedor e, se adrega a abrir seu coração tímido, pacato e receoso aos “parvenus” na Muna aterrados, célere os erige a dons Ramiros ou Duartes, mesmo se com inúteis asas de João Torto.
Por seu turno, o desencadeador do “charivari” (ao estilo brainstorming caseiro tinto & branco), impado, no dia seguinte não resistiu ao fulgente deslumbramento e da sua rede social fez Arco de Triunfo, postando em retrato de capa o partenon e sob ele, humilde, sua senatorial efígie.
O bom senso de alguém ou uma réstia de pudor determinou apagar a medalha, mas, para memória futura, o print screen estava feito.
Os próximos capítulos prometer-nos-ão, decerto, novos imbróglios, o pacificar das hostes, novas hostilidades… sabe-se lá?!
Decerto algo mais carrearão com o tempo, numa relação de causa efeito, que mais não seja para clarificação de estimas-novas e o leitmotiv deste marcial intento.
Como numa escrita destas, bem fica lembrar um satírico Camilo de “Eusébio Macário” ou um Aquilino cáustico-caricato,  de “Cinco Réis de Gente”, optamos por este último e por D. Nicéforo, par do reino, na sementeira de prebendas em aurora de sufrágio:
O senhor capitão José Francisco Vicente prometera-lhe o lugar de sacristão numa das igrejas de Lisboa” (…) “uma comenda ao Macário Dias”, “um estandarte à nossa igreja”, “a porca dum sino para Freixedo”… e por fim, selado o requisitório  dos compromissos, depois das batatinhas do padre Nazaré, “alvas como suspiros das afamadas pastelarias de Lisboa”, “esvaziada a última garrafa”, “trocaram-se breves mas afectuosos brindes, báquico-eleitorais.


Aguardam-se os próximos episódios…

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Publicado em Editorial