E se os nossos emigrantes regressassem?

  As nossas aldeias fervilham de gente… Dos mais velhos aos mais jovens, já são 4 as gerações de emigrantes que regressam a Portugal no mês de Agosto, a matar saudades, raízes não esquecidas, a abrir e arejar as casas todo o ano cerradas, a conviverem com os amigos de outrora, nas duas primeiras gerações, […]

  • 19:50 | Domingo, 13 de Agosto de 2017
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As nossas aldeias fervilham de gente… Dos mais velhos aos mais jovens, já são 4 as gerações de emigrantes que regressam a Portugal no mês de Agosto, a matar saudades, raízes não esquecidas, a abrir e arejar as casas todo o ano cerradas, a conviverem com os amigos de outrora, nas duas primeiras gerações, as duas seguintes com raízes em França, vindos quase só por tradição, vão passar uns dias à praia e vão às grandes cidades onde estão habituados a viver, um pouco alheados dos costumes tão tradicionais das aldeias de origem de seus avôs e bisavôs..
No início da década de 60, as difíceis condições de vida em Portugal levaram para a França, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, Bélgica… mais de um milhão de portugueses.
Hoje, só em França, o número não andará distante dos 2,5 milhões, mas, segundo um estudo feito (ver link infra), haverá no mundo 31,2 milhões de portugueses emigrados.
Lembremos que na década de 60, Portugal vivia com muitas dificuldades económicas, agravadas pela guerra colonial e pelo sorvedoiro de mão de obra que dela resultava, isto e não obstante uma balança comercial debilmente equilibrada pelo aumento de turismo e pelo primicial envio das remessas monetárias dos emigrantes.
A crise do petróleo de 1973 veio dar um forte rombo na frágil economia portuguesa. Portugal era um país subdesenvolvido pleno de assimetrias sociais e profissionais, agravadas ainda pela debilidade crescente do sector primário e pela repressão política do regime vigente.
Tudo se conjugou para uma emigração maciça geradora da enorme desertificação das áreas do interior mais pobres do país. Quanto mais pobre era o território, mais “filhos enjeitados” partiam…
Se a agricultura atravessava uma imensa crise, por outro lado, os restantes sectores não tinham capacidade de empregar todos estes crescentes “deserdados do destino”. Ademais, a IIª Grande Guerra tinha reduzido drasticamente a população europeia – principalmente a masculina –, que se encontrava a braços, no período de pós-reconstrução, com um forte recuo demográfico e com uma carência absoluta de mão-de-obra não qualificada.
Hoje, percebemos com clareza que, se a emigração gerou muita riqueza para Portugal e para a grande maioria dos emigrados, provocou também uma drástica redução populacional e um envelhecimento gradual dos portugueses.
Voltando ao início deste editorial, ao passar ontem por Vila Nova de Paiva, pelo Touro, pelos Alhais, pela Queiriga, pelo Carregal, por Sernancelhe, por Moimenta da Beira, pelo Sátão e ao ver um fervilhar de gente, é uma ousadia pensarmos: e se fosse assim todo o ano?
Portugal, no cômputo global de toda a plural emigração das várias gerações e para os quatro cantos do mundo, poderia ter hoje 40 milhões de habitantes. O que decerto faria a felicidade da maioria dos 308 municípios lusos e exigiria uma reinvenção da economia, todos os sectores incluídos, para essa debordante, dinâmica e estuante massa portuguesa, que se viu forçada a partir e por tantas dificuldades passar, numa saga ainda incontada e que faz de muitos desses emigrantes autênticos heróis anónimos por homenagear…
Deixamos algumas fotos (com DR) tiradas em diversos “bidonvilles” dos anos 60, em França, ilustrativas dos enormes sacrifícios passados…
Post scriptum: Dedico este texto às dezenas de “rapazes” do meu tempo, meus amigos de então e de agora, que abraço com amizade.
1115/11- Immigrés portugais – bidonville – 1965-
©Gerald Bloncourt
 
 

https://youtu.be/Phb3U3D8Kuc

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