As pantomineirices de Portas merecem um Óscar

    Seguia em viagem e calhou ouvir a entrevista dada por Luís Nobre Guedes à TSF e, logo de seguida, extractos do discurso de Paulo Portas, em Gondomar, no 26º Congresso do CDS/PP. Este homem vale quanto pesa. Fazendo do palanque um palco, o actor-convicto-Portas, vestiu como a gibóia, todas as peles possíveis. Ele […]

  • 19:00 | Sábado, 12 de Março de 2016
  • Ler em 2 minutos

 
 
Seguia em viagem e calhou ouvir a entrevista dada por Luís Nobre Guedes à TSF e, logo de seguida, extractos do discurso de Paulo Portas, em Gondomar, no 26º Congresso do CDS/PP.
Este homem vale quanto pesa. Fazendo do palanque um palco, o actor-convicto-Portas, vestiu como a gibóia, todas as peles possíveis.
Ele foi triunfal, ele foi humilde, ele foi sensacional, ele foi sofrido…
Chorou, riu, sorriu, compungiu, pingou… Ora baba, ora ranho, ora lágrimas, ora risos.
Num ápice, com todas as máscaras possíveis, teve um desempenho fascinante. Do real ao virtual, da mentira à verdade, da asserção à confissão, nada lhe ficou de fora.
Travestiu-se no herói, um Ulisses vitorioso a Ítaca chegado. Travestiu-se em Penélope prenhe de sofrimento. Travestiu-se em Argos, o cão de Ulisses, metáfora da fidelidade a entregar o leme à sucessora. Foi um Napoleão a subir as escadas de Santa Helena, foi um Nero incendiário. Foi um chocarreiro crítico dos outros e um elogioso panegirista de si próprio.
Ele fez tudo, enquanto governou. Com ele tudo cresceu. Tudo glorificou. Transformou Portugal num País de Maravilha. Pôs de cócoras a Europa. Aumentou o investimento. Gerou imensos empregos. Baixou a dívida pública. Atraiu investidores. Rebentou todas as fasquias do turismo… Sempre a bombar!
Finito, comoveu-se e fez a pausa certa. Puxou a lágrima bem treinada que assomou. Entaramelou a voz ginasticada que soçobrou.
A loquacidade e a fértil oratória deixaram rendidos todos os ouvintes. Se fosse numa varanda a falar para as multidões, ecoaria como se estivesse no Reichstag:
“Porque vocês são carne da nossa carne, sangue do nosso sangue!”
E acabaria assim:
“E nós sabemos que Portugal está diante, dentro e atrás de nós. Portugal marcha dentro de nós, Portugal segue atrás de nós!”
Portas é um alto-falante de desejos, de instintos, de sonhos, de ilusões, de expectativas de toda a audiência.
Tudo Portas encarna. É um mutante plausível.
É um Messias e um D. Sebastião.
É a paixão de S. Mateus, de Bach, o Tannhauser, de Wagner o Requiem, de Verdi, a Missa de Glória, de Puccini, o fado Vou dar de beber à dor, de Alberto Janes, interpretado por Amália…
Faltou-lhe apenas parafrasear Joseph Goebbels: “Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade.” Mas essa conclusão não é aceitável, pois que todas as eventuais mentiras de Portas, no paroxismo cínico da sua auto-glorificação, há muito são irrevogáveis e profundas verdades.
Um discurso bafiento, ressumbrando bolor de sacristia. Hipócrita e inventivo. Uma pele que Portas vestiu e despiu com sageza e mestria. Ademais, com a certeza de nunca ficar nu, pois mais que 7 vidas, há-de ter 21 peles.
E já agora, Carlos Costa out! Hic et nunc! “Não é solução é problema e só aceitei que ele ficasse porque estava a meio da venda do Novo Banco”.
Apre, que o tipo é duro!
E para concluir, Portas “não dá um passo atrás, é o partido que dá um passo à frente”.
Marchons, citoyens. Marchons…

Gosto do artigo
Publicado por
Publicado em Editorial