Almeida Henriques e "O Noivado do Sepulcro"

O presidente da Câmara de Viseu tem uma coluna no CM – onde mais podia ser? – na qual dilata os seus estados de alma ao país, numa prateleira inicialmente intitulada “Terras do Demo”, por decerto ignorar serem estes os concelhos de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Penedono – há que ler Aquilino antes de […]

  • 15:41 | Sábado, 28 de Novembro de 2015
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O presidente da Câmara de Viseu tem uma coluna no CM – onde mais podia ser? – na qual dilata os seus estados de alma ao país, numa prateleira inicialmente intitulada “Terras do Demo”, por decerto ignorar serem estes os concelhos de Moimenta da Beira, Sernancelhe e Penedono – há que ler Aquilino antes de o “usar”, mesmo em baquianas festarolices literárias de “tinto no branco”…
O CM que usa aquela linguagem de “cega e cigano” a integrarem o governo de Costa, que já foi objecto de quase duas centenas de queixas de cidadãos na ERC é o mesmo CM onde AH, impoluto e chocado escreve sobre “Vontade de Poder”. Um direito que lhe assiste.
E nesse gracioso escrito, nessa ejaculatória sentida e ofendida, AH fala em chavões musculados de “vontades subvertidas”, “controlo de poder”, “política… maiúscula, nobre e verdadeira”, “arte do bem comum”, “que o controlo do Poder não pode ser o fim mesmo da Política e dos seus atores. E que a sua conquista não se pode realizar a qualquer custo, de forma cega, por conveniência ou conivência, sem limites éticos. A conquista democrática do Poder nunca será um assalto, nem o exercício nobre da Política um enredo”, “sequestro da governação”, “falta de legitimação política substantiva”, “A “maioria absoluta” não pode ser um artificialismo apressado de laboratório imposto à democracia”, “casamento de conveniência, de resultado duvidoso. Em regime de separação de bens, com convidados constrangidos e divórcio preanunciado. Por interesse, não por amor.”
A carta a Garcia segue neste tom sentidamente destroçado de fazer prantear as pedras da calçada.
Quase uma dolorosa conjectânea epistolar de Mariana Alcoforado ao Cavaleiro de Chamilly…
Remoemos para perceber e, por fim, neste lirismo ao litro à João de Deus, conseguimos entender…
AH, afinal, sabia sobre o que escrevia. A vontade de poder era a do PàF, recém-apeado do cavalo espantado e sem conseguir tirar o pé do estribo Relvas, a correr o risco de ser arrastado pelas duras lajes, fragas e penedias dos planaltos da Lapa e Nave, que deram título ao romance que viu prelo em 1919 e granjeou a Aquilino o injusto rótulo de “regionalista”, ele que foi e é um universalista sem anacronismos e que, infelizmente, tem dado tom e mote a muita fancaria. Colunas de “pasquim” inclusive.
Faltou-lhe uma estocada final à Soares de Passos, do tipo “O Noivado do Sepulcro”:
(…)
“Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
“Hoje o sepulcro nos reúne enfim…
“Quero o repouso de teu frio leito,
“Quero-te unido para sempre a mim!”
E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d’infeliz amor.
Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.
Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

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