AH, o Centro Histórico e a política do vazio…

  Ontem escrevemos sobre o gradual empobrecimento comercial da nossa cidade de Viseu Para hoje tínhamos deixado o tão propalado Centro Histórico. Primeiro ponto: Porque é considerado centro? Porque aí existiu o núcleo primitivo da localidade e aí se edificou, em lugar alto, sobranceiro, o axis mundi nuclear. Segundo ponto: Porque é considerado histórico? Porque […]

  • 18:02 | Segunda-feira, 09 de Fevereiro de 2015
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Ontem escrevemos sobre o gradual empobrecimento comercial da nossa cidade de Viseu
Para hoje tínhamos deixado o tão propalado Centro Histórico.
Primeiro ponto: Porque é considerado centro?
Porque aí existiu o núcleo primitivo da localidade e aí se edificou, em lugar alto, sobranceiro, o axis mundi nuclear.
Segundo ponto: Porque é considerado histórico?
Porque aí se congregam as edificações de maior relevo patrimonial local, por exemplo, a Sé de Viseu, o Museu Grão Vasco a Igreja da Misericórdia… Porque aí se desenrolou grande parte do passado relevante da urbe.
Terceiro ponto: Como atrair (“revitalizar”) o Centro Histórico?
Tornando-o chamativo/atractivo para os investidores e visitantes. Como?
Pela adequada interacção do património com o turista. Que não existe.
Pelo impecável estado desse património. Que nem sempre é efectivo.
Fazendo círculos de raio cada vez mais amplo, num acto básico de centripetação, cuidar da envolvência que leva ao núcleo do património e dele se afasta. Aqui é o caos…
A CMV ainda não saiu do gabinete, fechada na sua endogenia de receber, contraria a exogenia do perceber e fazer. Por isso, não entendeu que o turista actual, em geral, procura uma lógica evolutiva. Um pitoresco secular. Uma vivência do passado com suas relações de efeito e causa. Uma experiência vivenciada…
Valorizar esse topos com unidades comerciais de referência: bons hotéis, excelentes restaurantes, chamativos bares, lojas comerciais de qualidade. Estimular as iniciativas dos investidores que nem sempre são só as dos “amigos”.
Neste momento existem duas unidades hoteleiras de referência no local, um restaurante mais ou menos relevante, alguns sítios para comer e mais de uma dúzia de bares, dos quais apenas um ou dois se destaca. Quanto a comércio que se distinga… conta-se por dois dedos de uma mão. Não chega!
A senhora Câmara que ainda não encontrou nem leme nem rumo e ora infesta o espaço de sinalética toponímica, ora o enche de polícias, ora proíbe o estacionamento, ora o permite e, destaque-se porque é justo, começou, enfim, a recuperar alguns edifícios. Para umas incubações de empresas, dizem. Para os serviços municipalizados, referem. Para a CIM Viseu Dão Lafões desejam. Em suma, esvaziar de um lado para colocar no outro…Não chega!
Se no Verão, fruto das esplanadas, o bom tempo convida a sair de casa, nas outras estações e tirando um ou outro pontual dia/noite, não se vê vivalma, fora os teenagers da 5ª feira e as ressacas de 6ª… Não chega!
Além disso. Na envolvência do centro histórico, desde as diversas ruas e calçadas que a ele acedem até à paradigmática Rua Direita, o que vemos?
Espaços mal cuidados, “pinderismo”, decadência profusa, lixeiras a olho nu e um ar de terceiro-mundo “pobrinho” que, no seu desleixo, negligência e incúria mostra em que mares navega a nau. Não chega!
Uma cidade pode ter o mais belo monumento do Universo… se em redor houver uma lixeira só que seja, está determinantemente comprometida a mensagem e a sensação de repúdio que vai transmitir ao avisado  e esclarecido visitante.
Hoje, deambular pelas perpendiculares à Rua Direita é presenciar isso a cada passo; é topá-lo nas fachadas decompostas e arruinadas dos edifícios de toda aquela zona, nas vidraças escaqueiradas, nas portas arrombadas, é perceber que a Rua Formosa tem pouco mais de uma dúzia de moradores; outro tanto a Rua do Comércio; mais alguns a Rua Direita e… assim sucessivamente, entender, com clareza que quase tudo está por fazer e que este executivo camarário se habituou a pagar para ter, atraindo a si os oportunistas do “que está a dar”, mas não sendo capaz, de provar com a inequívoca factualidade que, e por exemplo, a vereadora da Cultura foi ocupar o lugar por ter ideias na cabeça, ao invés de dar resposta a uma quota e a lógicas partidárias.
Também entendemos as festas vínicas por motivos que a seu tempo abordaremos mas, e este ponto é fundamental, com clareza percebemos que da cabeça do autarca-mor, de onde deveriam soprar iniciativas profícuas, estruturantes e dignas, nem uma brisa refrescante brota, antes um bafio pesado, requentado e bolorento da publicidade da loja dos 300. Não chega!
Viseu não é o Centro Histórico. Há mais vida para além dele. Mas essa vida vai-se extinguindo como se de uma praga se tratasse. A Aguieira está abandonada. A Cava do Viriato não é potenciada. O Parque/Mata do Fontelo é um caos e no estio um paiol. O Parque Aquilino Ribeiro é um ponto de passagem da e para a Alves Martins. O Mercado 1 de Maio extenua-se em actividades “pires”. O Mercado Municipal está, gradualmente, às moscas. A Feira Semanal não é acarinhada e dotada da dignidade que devia merecer do município…
Enfim, Viver Viseu é, também olhá-la com sentido crítico, ter a capacidade de dar voz ao que se vê/testemunha e, principalmente, não fazer parte da vasta fila de “indigentes” que tiraram ticket à porta da edilidade para abichar o subsidiozinho da salvação, neste país de grandes cultores e cultivadores desse Maná, aduladores subservientes e acríticos de todo e qualquer poder instituído, muito semelhantes a ele na mediocridade das suas competências em prol da urbe que deviam servir e/ou se propõem servir, para fazer mais e melhor e não para abocanharem com avidez um dos plurais têtos ainda anchos do nutritivo e vital pão-nosso-de-cada-dia.
Que Deus lhe perdoe e o bispo o abençoe, AH, os munícipes começam a perder essa capacidade de tolerância e paciência…
Nota final: Todas as fotografias são minhas e desta passada semana. Tenho mais 2 gigas delas, se quiserem expor.

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