A Igreja Românica de Sernancelhe e Monsenhor Cândido de Azevedo

Homenagem Mínima   Conheci e privei com Monsenhor Cândido de Azevedo que foi durante décadas o pároco de Sernancelhe. Figura controversa pelas suas posições ideológicas, homem de carácter férreo, sempre dado a soprar a chama de uma polémica, era no trato mais pessoal um homem cordato e um historiador excepcional. Como excepcional era o seu […]

  • 15:28 | Terça-feira, 19 de Dezembro de 2017
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Homenagem Mínima

 
Conheci e privei com Monsenhor Cândido de Azevedo que foi durante décadas o pároco de Sernancelhe.
Figura controversa pelas suas posições ideológicas, homem de carácter férreo, sempre dado a soprar a chama de uma polémica, era no trato mais pessoal um homem cordato e um historiador excepcional. Como excepcional era o seu amor por Sernancelhe e nomeadamente pela arte sacra e sua expressão máxima, que ele consagrou no livro a “Igreja Românica de Sernancelhe”.
Esta obra grandiosa, concluída em 2009 e iniciada em 2003, viu o prelo por patrocínio da Câmara Municipal de Sernancelhe e, em boa hora tal foi feito pois editou-se para a posterioridade a mais grandiosa História Religiosa local, tendo como ponto de partida a sua Igreja Matriz na qual e cito o autor “muita da minha vida tem sido gasta como cicerone da minha igreja”.
Nas suas mais de 300 páginas, numa edição esmeradíssima, contou com a direcção de arte de Rui Costa e a fotografia (perfeita!) de Rui Lourosa.
No antelóquio, o Bispo de Lamego em 2010, Jacinto Tomaz de Carvalho Botelho, escreve “ Ao longo da elaboração da obra pode ler-se subjacente a história do próprio autor que não esconde o orgulho de Sernancelhense e o amor entranhado à sua terra e aos seus indiscutíveis valores patrimoniais” (…) “Primoroso no estilo literário como sempre, e com um vocabulário abundantíssimo usado com exactidão, é portador por isso deste alto valor pedagógico, tão premente em tempos de tanto facilitismo na linguagem e tanto atropelo à gramática.
Carlos Silva Santiago, à data vereador da Cultura e hoje Presidente do Município, lavrou: “O livro A Igreja Românica de Sernancelhe, pelo seu significado, contributo histórico, acervo arqueológico e patrimonial, promoção turística e cultural do Concelho de Sernancelhe, elemento definidor da centralidade territorial e evolução religiosa no Concelho, merece ser analisado, estudado e exibido como obra de referência. Ler este livro faz-nos perceber que, afinal,  mais ninguém conseguiria escrever sobre a Igreja Românica de Sernancelhe, como Monsenhor Cândido de Azevedo…”. Justíssimas palavras!
Há livros que por vezes adquirimos ou nos são oferecidos e, talvez pelas vicissitudes da vida, se arrumam numa estante, à espera da oportunidade da sua leitura. Confesso que tive esta obra assim guardada alguns anos, para menoscabo da minha fruição da sua leitura. Peguei-lhe num daqueles actos fortuitos e comecei a ler. Parei sete horas depois…
Muitas vezes tive o privilégio de deambular pela Igreja de Sernancelhe na companhia de Monsenhor Cândido de Azevedo, tive também a oportunidade de com ele visitar o Museu Paroquial Padre Cândido, inaugurado em Maio de 2011, outra das “meninas de seus olhos”. Partilhámos de ideias profundamente antagónicas em muitos casos, nomeadamente no âmbito da Literatura e da política. Sempre nos respeitámos. Pouco antes do seu fim, num dos meus passeios a Sernancelhe, encontrei-o sozinho na ermida da Senhora de ao Pé da Cruz. O dia estava soalheiro e por ali nos quedámos um tempo longo a falar daquela terra pela qual partilhámos e partilhamos o gostar. O seu rosto já mostrava a maleita que o tomava. Foi a última vez que com ele estive. Que descanse em paz…
Deixo aqui um repto ao Executivo camarário e às autoridades eclesiásticas… Promovam a obra e homenageiem o seu autor e, se possível, leiam este legado testemunho aqui referido e visitem o objecto das suas páginas, comecem pela frontaria, suas esculturas, cachorrada. No seu interior, atentem nas siglas e gravuras, no túmulo gótico do século XV, no altar, nas pinturas murais, a fresco da Virgem Apocalíptica, do século XVI, ou da Nª Sª do Rosário, bizantina, do século XV, no baptistério e púlpitos, na pintura do século XVI, de influência flamenga e outra, na escultura variada e belíssima, a torêutica sumptuosa e o arquivo…
Mas, preferencialmente e em consonância com o Museu, exponham todo este legado sacro, riqueza patrimonial deste Concelho, orgulho e memória dos Sernancelhenses.


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