A formatação

    Sem cabalas, o mundo e as vivências estão formatados segundo critérios laboriosamente urdidos e consolidados pelas classes pensantes/dominantes. Os meios de comunicação social são os maiores formatadores universais. Num mundo maioritariamente acrítico, monótono e solitário, o homem aceita a voz do outro, sem a questionar, endeusada no papel impresso ou edulcorada na imagem […]

  • 14:00 | Domingo, 27 de Dezembro de 2015
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Sem cabalas, o mundo e as vivências estão formatados segundo critérios laboriosamente urdidos e consolidados pelas classes pensantes/dominantes.
Os meios de comunicação social são os maiores formatadores universais.
Num mundo maioritariamente acrítico, monótono e solitário, o homem aceita a voz do outro, sem a questionar, endeusada no papel impresso ou edulcorada na imagem artificial das starlets plastificadas.
A educação, subtilmente afinada de geração em geração, formata o pensamento e a “cultura” para a direcção que os mega e fantasmáticos amos querem que ela trilhe e ensine a trilhar.
A nossa vida é uma pré-formatação construída e definida por quem não conhecemos nem nos conhece (somos massa acarneirada) que determinará inexoravelmente todo o nosso comportamento, modo de pensar, de ver, de fazer, de agir e de ser.
Somos uns acumuladores de clichés a viver as angústias que nos transmitiram ser angústias e a lutar pela ilusória e mirífica concepção do ser-ter que nos incutiram.
Um jogador de futebol conhecido, salvo erro de nome Nuno Gomes (perdoem-me se não for esse o nome) foi a Cabo Verde, a Porto Mosquito (Ribeira Grande) praticar solidariedade social levando consigo jornalistas e camara-men.
Levava chuteiras para dar a crianças da ilha. Pobres de bens materiais.
Os olhos deles, já de si enormes, mais se desmesuraram no espanto daquelas botas vistosas, amarelas, com pitons de todo o terreno… Calçaram-nas de imediato nos pés nus. Mas só calçou uma cada um. A outra… foi dada a outro menino e, a dobrar, felizes, foram para o terreiro jogar à bola.
O jogador, perplexo, perguntou a um deles:
— “Então, jogas com o pé descalço?” e o menino respondeu rápido, com toda a felicidade estampada no seu rosto moreno, — “Não, jogamos com o pé calçado!” e saiu a correr e a chutar com o pé calçado que a inocência e a inata solidariedade tinha multiplicado, naturalmente, pelo dobro dos meninos.
Sem moralismos bacocos, não deixo de pensar que há uma moral nesta história e neste texto.
Se o leitor não a lobriga… não se rale. Já está com o formato definitivo.

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Publicado em Editorial