A Academia é firme e a memória curta… (1969-2015)

Coelho, o primeiro-ministro, recusou um convite da AAC para estar presente no dia 24 de Março, a fim de tomar conhecimento das “dificuldades dos estudantes“, desiderato que foi recusado, numa posição que Bruno Matias, presidente da AAC, apodou de “atitude cobarde do governo“. Entretanto, Coelho, no seu iniciado périplo eleitoral pelo país da fantasia, reconsiderou e […]

  • 13:30 | Segunda-feira, 23 de Março de 2015
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Coelho, o primeiro-ministro, recusou um convite da AAC para estar presente no dia 24 de Março, a fim de tomar conhecimento das “dificuldades dos estudantes“, desiderato que foi recusado, numa posição que Bruno Matias, presidente da AAC, apodou de “atitude cobarde do governo“.
Entretanto, Coelho, no seu iniciado périplo eleitoral pelo país da fantasia, reconsiderou e convidou os representantes da AAC para almoçar na 3ª feira passada.
Invocando que “os problemas não se resolvem em almoços” e que “o Dia do Estudante deve ser celebrado com os estudantes, unidos, a reivindicar por melhores condições de ensino superior, com mais qualidade“, tal desejo foi por eles liminarmente recusado.
Coelho não frequentou Coimbra, vem da Lusíada e a 17 de Abril de 1969 devia andar de cueiros ou no jardim infantil de Massamá, senão, não ignoraria que quando Américo Tomás foi inaugurar o novo edifício das Matemáticas, acompanhado pelo ministro da Educação, José Hermano Saraiva, a recém-eleita direcção da AE pediu para falar (Alberto Martins), o que Tomás recusou.
De seguida, o presidente da República tentou discursar. Em vão, pois a vaia monumental da academia não lho permitiu. A partir desse dia e até Outubro, Coimbra entra em “desobediência cívica“.
Marcelo Caetano está no estrangeiro. Em Coimbra instaura-se o estado de sítio e inicia-se o princípio da queda do regime. A greve aos exames, de 17 de Abril a 10 de Junho dá a partida para uma insurreição magistral.
A PIDE, a GNR e a PSP ocuparam Coimbra com seus jipes anti-motim, tropas de choque, canhões de água. Havia “níveas” (os VW’s azuis e brancos da PSP) por toda a parte.
A Academia respondeu com plenários superlotados no teatro Gil Vicente, largadas de balões com palavras de ordem aos milhares, pregos nas ruas para furar os pneus dos jipes, sabão nas calçadas  –  esfregado de madrugada  –  para os pobres cavalos da GNR escorregarem, etc.
Entretanto, é o grande jogo da meia-final da Taça de Portugal de futebol no Estádio do Jamor. Académica contra o Benfica. A Academia partiu em massa para Lisboa, de comboio, autocarro, carros particulares, motocicletas, à boleia. A ideia era apoiar a “gloriosa” e vaiar o presidente da República, novamente. Este, mais os seus acólitos, cobardemente não compareceu. O camarote de honra ficou deserto… Em campo, em sinal de luto, a equipa da Académica entrou com as capas negras sobre os ombros…
Eu era “bicho” (estudante liceal) e muito novinho, mas fui para Coimbra à boleia (eu tinha que ir!) e fiquei na República Kimbo dos Sobas, na Antero de Quental, onde esteve Agostinho Neto hospedado. Fui pela mão de um dos “insurrectos”, o saudoso Mário Roque, de Mioma, Sátão, que depois viria a ser juiz de Direito… e andei com ele e com o João Vilar, o gordíssimo presidente do TEUC, que tão bem representava o valoroso soldado Schweik, de Bretch, pela madrugada dentro…
Na Praça da República, ainda em terra batida, a agitação era brutal. A polícia política intervinha em grupo mandando em vão dispersar e com a célebre e cínica palavra de ordem “É proibido formar grupos de mais que um…!
 
Coelho não sabe nada disto, claro. É da nova geração, não da contestação, sim da vergada anuência nos corredores luminosos das jotas. Há actos premonitórios.
 
(fotos DR – abençoados fotógrafos!).

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Publicado em Editorial