"1984" – breve revisitação…

Há obras que, por vezes, parecem pairar ignoradas no tempo e de repente, pegamos nelas, lêmo-las de um rufo e percebemos que apesar de estarem mais de meio século distantes da sua publicação, não se anacronizaram, antes pelo contrário se presentificando na mais ampla e lúcida actualidade. Em Portugal deparamos com esse fenómeno na bibliografia […]

  • 23:47 | Quinta-feira, 23 de Julho de 2015
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Há obras que, por vezes, parecem pairar ignoradas no tempo e de repente, pegamos nelas, lêmo-las de um rufo e percebemos que apesar de estarem mais de meio século distantes da sua publicação, não se anacronizaram, antes pelo contrário se presentificando na mais ampla e lúcida actualidade.
Em Portugal deparamos com esse fenómeno na bibliografia activa de Aquilino. Mas agora, aqui, queria deixar uma referência a George Orwell e a “1984”, que não sendo o seu mais conhecido título, pois obnubilado pelo sucesso de “O Triunfo dos Porcos”, tem um conteúdo arrepiante… Seguiu-se a edição de 2002 da “Colecção Mil Folhas”, a obra original sendo datada de 1949.
Deixo-vos alguns extractos, tirados dali e de além, propondo ao estimado leitor o exercício mental de relacionação e analogia entre uma ficção perspectivada há mais de seis décadas e a realidade do Portugal de hoje…
Boa leitura!
 
“Já tinha percebido que a única base segura para a oligarquia é o colectivismo. A riqueza e os privilégios são mais fáceis de defender quando possuídos em conjunto.”
 
“Só há quatro maneiras de um grupo dominante perder o poder. Ou vencido do exterior, ou governa de modo tão pouco eficiente que as massas acabam na revolta, ou permite que se forme uma classe Média forte e descontente, ou perde a confiança em si próprio e a vontade de governar.”
 
“Do ponto de vista dos nossos actuais governantes, por conseguinte, os únicos perigos reais resumem-se à formação de algum novo grupo de gente capaz, subaproveitada e faminta de poder, e à difusão do liberalismo e do cepticismo nas suas próprias fileiras. Ou seja, trata-se de um problema educacional. Questão de moldar permanentemente a consciência tanto do grupo dirigente como do grupo executivo mais vasto, que se situa abaixo do primeiro. Quanto à consciência das massas, basta influenciá-las pela negativa.”
 
“… a estrutura global da sociedade oceânica. No vértice da pirâmide, o Grande Irmão. O Grande Irmão: infalível e todo-poderoso. Considera-se que cada êxito, cada realização, cada vitória, cada descoberta científica, toda a sabedoria, toda a felicidade e toda a virtude derivam directamente da sua chefia e da sua inspiração.”
 
“Os proletários, esses, na prática, não têm a mínima hipótese de entrar para o Partido. Os mais dotados de entre eles, que poderiam vir a gerar focos de descontentamento, são detectados pela Política do Pensamento e simplesmente eliminados.”
 
“Espera-se de qualquer membro do Partido que não tenha sentimentos pessoais nem quebras de entusiasmo. Pretende-se que viva num frenesim contínuo de ódio aos inimigos estrangeiros e aos traidores internos, de euforia pelas vitórias e de auto-aviltamento ante o Poder e a sabedoria do Partido.”

 

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