SOUTOSA III – A CASA DO ALDEÃO

  Aníbal Aquilino Fritz Tiedmann Gomes Ribeiro era ainda criança de berço quando vem de Paris para Soutosa onde manterá depois esporádicas presenças, onde viverá os últimos dos seus dias, guardadas que estão ali, no Campo Santo, as suas cinzas e as cinzas da inefável e desditosa Grete, sua mãe, que o destino tão cedo […]

  • 9:48 | Quinta-feira, 26 de Novembro de 2015
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Aníbal Aquilino Fritz Tiedmann Gomes Ribeiro era ainda criança de berço quando vem de Paris para Soutosa onde manterá depois esporádicas presenças, onde viverá os últimos dos seus dias, guardadas que estão ali, no Campo Santo, as suas cinzas e as cinzas da inefável e desditosa Grete, sua mãe, que o destino tão cedo levou.

Aníbal Gomes Ribeiro terá herdado, desde os tempos de sua mãe, vivas memórias do viver aldeão, do casario de pedra solta, quase todo, da telha vã dos telhados, do desconforto de uma cama montada sobre bancos esconsos, que não a sua e a de poucos mais, de barras de ferro pintadas de azul, da cozinha construída tanta vez sobre as lajes de uma anta e onde o lume se mantinha aceso até que o sino desse Ave Marias, um gato ronronando durante o serão, luz de azeite ou petroline alumiando os gestos ritmados das mulheres a fiar linho e os caminhos das fantasiosas histórias que contavam.


Aníbal Gomes Ribeiro quis reinventar, na Soutosa, nesse território da pequena Cerca que já vinha dos avós, uma típica Casa de Aldeão e ingenuamente a instala numa velha casa de caseiro votada ao abandono que não poderia responder ao ensejo, tão distanciada de um formulário estabelecido por séculos no que releva a arquitecura e ao espírito do lugar.

Urge agora retomar, com urgência, a intenção do fundador deste pretendido espaço cultural, a Fundação Aquilino Ribeiro, lugar de infindáveis e densas memórias e, no que toca à Casa do Aldeão, que ela encontre pouso no exterior da velha Cerca familiar, no concreto entorno da aldeia, no efabulado sítio onde morava Glòrinhas, ou a Zefa do Alonso, o Narciso Espadagão ou um qualquer dos Gaudêncios. As iluminadas páginas de “Aldeia” ou os impressivos textos das “Terras do Demo” e ainda o olhar etnográfico que pode alargar-se por ruas e vielas antigas a cujas sombras se entoavam as “pulhas” carnavalescas oferecem matéria de sobra para se restituir a lição museológica que reinvente a Casa do Aldeão, esse castiço habitat da “aldeia montesinha” de que Aquilino se sentiu como pertença.

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Publicado em Cultura